quinta-feira, 27 de julho de 2017

Estar vivo é puro reflexo de legitima defesa...


"No próprio momento em que nasce, o ser humano sabe por instinto que viver é um reflexo de legitima defesa..."
Fréderic Schiffter


Apesar de todo o teatro governamental, paroquial e policial a violência aqui na Capital da República está de despertar  - como diria Roberto Jeffersom - nossos medos e nossos instintos mais primitivos. 
Diariamente alguém é esfaqueado, baleado, atropelado, escalpelado e etc. E todo dia a polícia (militar, civil, secreta, do exército, da marinha, da aeronáutica, da guarda nacional e etc) circula por aí com as sirenes ligadas e com os soldados mascando chicletes, fazendo pose e escrutinando os vãos das esquinas e o movimento das sombras... Tudo inútil. No outro dia cedo, ainda na hora do café, o repórter limpa a garganta, olha para a lente das câmeras e com cara de sacristão informa: infelizmente mais um corpo crivado de balas e bem ali em frente ao mausoléu da pátria! Outra mulher encontrada num porta-malas! A criança Y não resistiu. Fulano de tal já não está mais entre nós! Partiu desta para melhor; seu reino não é mais deste mundo e etc. E em casa, a famiglia - esse aglomerado de gangsters, como diz David Cooper - com os olhos arregalados, se engasga com o pão vagabundo, seco e cheio de fermento. Resmungam alguma coisa a media-voz, beijam o escapulário, (já nem mais tão limpo) pegam a bolsa e deslizam para o trabalho. Para o trabalho? Não, para a repartição. Onde ficam enxugando gelo, planejando a aposentadoria e lendo a série de delações, de putarias e de crimes do dia, até que alguém lhes avise que já é hora de despertar e de voltar a comer, fazer la siesta, ver o jornal da tarde, as novas notícias, os novos tiroteios e, claro, de beijar o escapulário... y asi se van los dias...
Como já declarei várias vezes, é uma pena não estar vivo daqui a  uns 50 anos para ver como os arquivistas, historiadores e outros falsificadores de plantão irão descrever esse período patético, insano e sado-masoquista da história...
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Uma curiosidade: logo após postar este texto, abri a pasta que contém os velhos documentos de meus antepassados e vi lá, no atestado de óbito a causa mortis de meu avô materno: Assassinado a tiros de revólver no ano de 1931, com 54 anos. Como se vê, o tiroteio vem de longe...

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