segunda-feira, 11 de março de 2013

O ZELO DE TUA CASA ME CONSOME...

O circo, o teatro e as imoralidades secretas se aquecem no Vaticano. Dentro de algumas horas elegerão um novo representante de Deus na terra. O zum zum zum dos últimos dias sobre corrupção, veleidades e sacanagens no interior das alcovas e nos subterrâneos daquele estado não abalou a fé de católico nenhum. O autoengano e os mecanismos de defesa  com os quais os beatos são revestidos os faz invulneráveis. Ontem mesmo as igrejas estavam lotadas, ouvia-se da rua que cantavam hosanas com todas as forças, que soavam as campainhas, que pediam eufóricos a intercessão divina na escolha do novo chefe... 
Eu, que não tenho a mais mínima esperança de que esta espécie venha a curar-se e a liberar-se um dia dessas neuroses (pelo contrário), me divirto imaginando como seria se o velho cristo, aquele que segundo as lendas chicoteou os vendilhões do templo de Jerusalém, saltasse amanhã cedo com um porrete para dentro das muralhas do Vaticano. Ah, seria muito gozado vê-lo esmurrando as paredes da capela Sistina, esse engendro inspirado no Templo de Salomão, cheio de mistificações carimbadas por Michelangelo, Rafael, Botticelli e outros ragazzi de aluguel da época...! 
O mesmo cristo que tanto se escandalizou com os comerciantes de ovelhas, bois, pombas e cambistas no interior do templo judeu, naqueles tempos precários em que ainda se limpava o cu com pedaços de pedra, ... que susto deveria levar diante da luxúria dos aposentos romanóides, da artificialidade daqueles charlatães e do clima cainesco às vésperas do conclave, no meio daqueles cento e tantos candidatos a ocupar a cadeira de Pedro, uns com roupagens de pica-paus outros parecendo abutres andinos, todos com uma cruz no pescoço onde ele próprio, o cristo, está crucificado e sangrando... 
E quando soubesse da prostituição recém denunciada; dos protocolos secretos do Estado edificado em seu nome; do exército, igual ao de Herodes mantido dentro das muralhas; dos apóstolos banqueiros; da lavagem de dinheiro; dos acordos com Mussolini; do estupro de milhares de crianças pelo mundo a fora; dos apoios incondicionais a ditadores e a torturadores, principalmente na solidão da América Latina, quando soubesse de tudo isso, e mais, que os gerentes dessa indústria celestial ainda consideram as mulheres úteis apenas para lotar e fazer volume nas igrejas, mas indignas de ocupar cargos dentro da "maquinaria sagrada"... Ah!, quê reação teria ali em Roma, no meio de todo aquele luxo, esse singelo e mitológico essênio!? 
Provavelmente saisse clandestinamente daquele festim de hipocrisias e se refugiasse, cercado pelo ex-mordomo e por três ou quatro ciganos, numa das tantas bodegas dos arredores para, depois da terceira garrafa, lamentar-se como outrora: o zelo de tua casa me consome...
Lamento ao qual um dos ciganos replicaria com uma frase de Heine: Vocês ouvem a sineta? Ajoelhem-se! Estão levando os sacramentos a um deus agonizante!!!

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