sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Da tragédia... ao xotes do gringo desvairado...

Agora que os mortos já foram enterrados, que a missa eclética de sétimo dia já foi celebrada e que os horrores da tragédia vão passando para o arquivo inútil da história, entra em cena o samba do criolo doido, ou melhor, o (xotes dos gringos desvairados) e a miséria do processo investigativo. 
A responsabilidade é do prefeito?! Ou melhor, de sua equipe! Mas, e os bombeiros? De quem é a real responsabilidade? E os fiscais? E a saúde pública? E os donos? Mas a culpa não seria dos clientes? Não, isso não! A responsabilidade foi dos músicos! Ou do demônio? Dos leões-de-chácara da boate! Do padre que não foi benzer o local! Da Lei das Probalidades! Da bíblia que não previu a catástrofe e até mesmo de deus que poderia ter poupado tanto sofrimento! Ou não? Onde está o alvará? Ora, mas este é falsificado! E a licença? Ah, a Secretaria estava sem papel... E as portas de segurança, e os cadeados, e os extintores de fogo? Mas, e Nietzsche! E as bençãos do Padre Marcelo! Não havia extintores de fogo, mas havia extintores de vidas! Não é a mesma coisa, doutor!? Vamos investigar, doa em quem doer... Diz o governador, que já foi ministro e que ninguém sabe o que poderá ser no porvir... Conivências e subcontratos para todos os lados! Casas e casos de tolerância! Quem são os donos? Mas esses já tinham passagem pela justiça! Quem prescreu-lhes o habeas corpus? Tudo era para lavar dinheiro! Ah bom! Mas e a polícia? E o Papa? O que é afinal uma boate? Uma boate de isopor? E a comunidade o ano inteiro com o rosário entre os dedos? Foi uma fatalidade! Obra do destino! Deus quis assim! Mas por quê deus desejaria assassinar quase 300 adolescentes? E a Santa Maria, por quê não lançou pelo menos um alerta? Lágrimas! Chavões moralistas, socos na parede. Os joelhos calejados! E o governador? Vamos indenizar os familiares das vítimas! Ora, mas isto não é mais uma forma de prostituir ainda mais a desgraça! É evidente que não se chegará a nada! Parole! Teatro! Festival de alcaguetismo! Nenhuma novidade! Vivemos mergulhados num universo sucateado. Faça um teste: abra o catálogo telefônico ao azar e escolha um endereço, uma casa, uma empresa, uma profissão... Tudo irregular! Uma ala foi agregada ao imóvel fora do planejamento, os documentos estão sob judice. Falta isto ou falta aquilo! O próprio dono foi registrado dois meses depois de nascido, o sobrenome saiu errado, e não pode ser corrigido porque o juiz da época não tinha legitimidade... Além disso, tocaram fogo no cartório. Havia um registro na paróquia, mas o padre foi preso por pedofilia e ninguém sabe mais onde está o arquivo. Dizem que o dito cujo foi mandado para um seminário porquê seu pai, bêbado e violento, ameaçou matar não só a ele, mas a seus doze irmão, todos aliás, nascidos contra a vontade da mãe, já que parte das pílulas eram falsificadas... A farmácia que as comercializava estava no nome de um farmacêutico laranja...
Quando levavam o padre para a prisão o carro sucateado da polícia chocou-se com um ônibus clandestino, cujo motorista não era habilitado. Na discussão o policial sacou uma arma (sem registro) para intimidá-lo, mas acabou acidentalmente dando-lhe um tiro na cabeça. Ninguém apareceu para reconhecer o corpo do motorista... E o policial ainda está solto...
Enfim, tudo isso sugere que fazemos parte de uma tribo onde quase ninguém sabe sequer, quem é, realmente, seu avô... e também nos lembra o que escreveu Wilson Lins: “A terra se vinga do homem servindo-se do próprio homem como instrumento de vingança". 

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