segunda-feira, 30 de julho de 2012

Na Era dos esculachos...


1. Depois de muito tempo deparei-me com o mendigo K., ali pelos lados do Ministério da Justiça. Levava um pacote de documentos dentro de um saco de plástico, papéis que, segundo ele, iriam servir-lhe para arrancar uma boa indenização do Estado. Quando lhe participei a noticia de que a estatua do Marechal Castelo Branco, no Leme (RJ), havia sido esculachada por filhos, netos, bisnetos, parentes e até pelos próprios torturados políticos respondeu-me a queima-roupa: deveria ter sido derrubada. E não só a dele, mas qualquer uma das que foram levantadas por aí e que lembrem aquele período de horror. Depois, num tom menos exaltado completou. Aliás, se fosse por mim, não sobraria nenhuma. Derrubaria até a de José Bonifácio com um prazer extremado. A de Dom Pedro e de sua família então, colocaria abaixo com um gozo imenso... Só pouparia os cavalos onde esses crápulas normalmente estão montados... Esses pobres animais que entraram para uma história espúria sem terem nada a ver com isso...
2. Eu que até ontem afirmava que se pode conhecer facilmente o caráter de um povo analisando seus rios, suas bibliotecas e suas cadeias, hoje estou convicto de que também se pode traçar o perfil completo de uma nação e de sua gente ligando seus liquidificadores. E digo isto depois que a vizinha do lado ameaçou-me de morte caso eu voltasse a ligar o meu antes da nove horas da manhã. E não pensem que ela está exagerando! Está coberta de razão... Admito que seu barulho é praticamente igual ou pior que o de uma motosserra. Os talheres, as panelas, os copos e até as vidraças tremulam quando está funcionando e o zunido do abacaxi sendo triturado lembra ao de um tornado. E, pior: no mercado todos são assim. O vendedor mencionou um tal “ultrassônico” que já existe em alguns lugares da terra, mas só por lá...
3. Também recebi as fotos de duas mulheres do grupo FEMEN fazendo uma desinibida performance em defesa do parto doméstico e do direito de “dar-à-luz” ou de parir fora das maternidades... em casa, numa piscina, em baixo de uma árvore... enfim, onde a mulher bem quiser... É realmente muito esquisito os médicos acharem que o nascimento deva acontecer no interior de um hospital, principalmente sabendo como são nossos hospitais... Será que os sábios de plantão incluíram secretamente até a gravidez na Classificação Internacional de Doenças???  Para um conhecido filósofo da UnB essa discussão é tola e quase primitiva. Para ele a questão não é onde a criança vai nascer, se numa maternidade ou na casa da parturiente, mas se ainda vale a pena e se não é um crime fazê-la nascer num mundo tão desgraçado...

sábado, 28 de julho de 2012

O tédio e o gozo de pilotar motocicletas...



Com a umidade do ar abaixo de 20% e correndo o risco de ter uma embolia cerebral ou até mesmo um derretimento do cerebelo, passei umas duas horas lá na Granja do Torto onde está acontecendo outro encontro anual de motoqueiros. Segundo os jornais, uns dois mil e tantos e de todo o país. Como não tenho o mais mínimo interesse por esse assunto, só fui até lá fazer este registro porque parece tratar-se realmente de uma fauna exótica, de seres que sobraram da pedra lascada, algo como uma maçonaria de andarilhos, uma legião de piratas sem caravelas, uma cavalaria sem cavalos em busca do Santo Graal e sem as peripécias formais das cruzadas... Um bando de peregrinos em direção ao santuário da alienação e de solitários interligados pelo asfalto... ou algo assim... Com seus casacos de couro, suas camisetas, seus coletes pretos, suas caveiras tatuadas e seus olhinhos infanto-juvenis parecem ter sido todos engendrados na mesma fornalha e estarem voltando de Woodstock ainda com a cítara de Ravi Shankar ecoando nos miolos... Claro que se fala mais na idílica Rota 66, em bielas e em turbinadas do que em Heráclito..., muito mais em longos trajetos do que em longas reflexões filosóficas...,  apesar de muitos, com certeza, terem lido o badalado ZEN E A ARTE DE CONSERTAR MOTOCICLETAS..., também On the Road e, claro, assistido várias vezes ao filme Easy Rider... Uma cordialidade pra lá de cristã entre eles próprios e com qualquer forasteiro que apareça por lá. Se estiver com uma câmera fotográfica ligada então... Por falar em cristã, alguns grupos, pelos nomes, parecem ter se originado em sacristias: Esquadrão de Cristo, Cruz de ferro,  Ordem dos cavaleiros de São Jorge, Monges etc... Apesar das barbas de matusalém de alguns e dos bigodes queimados pelo tempo e pelo sol das estradas, de outros, parecem, na verdade, uma trupe de adolescentes exibindo e se divertindo com seus brinquedos... Digamos, uma ludoterapia... Quase todas máquinas potentes, até umas Harley-Davidson, umas inteiras em inox, outras cromadas, outras de ferro bruto, outras de três rodas e cada uma com o símbolo da confraria ou do clube a qual o piloto pertence. Contei mais de cinquenta e, curiosamente, 99% delas com nomes de animais: Bodes do asfalto; Asas de águia; Os lobos negros; Aranhas do asfalto; Cupim de ferro; Falcão peregrino; Abutres; Os boca de porco etc. Também havia pelo menos três confrarias femininas: Divas insanas; Medusa e Bruxas. Dificil negar que no ar seco da tarde levitava alguma coisa derivada do tédio... Apesar de em telões aqui e ali Pink Floyd e o rock in rol já estarem comendo solto, nenhum cheiro da erva dos anos 60. Ou lhe retiraram geneticamente o odor ou já é coisa do tempo dos dinossauros. A cerveja sim! Cada um, homens e mulheres, exibia sua lata como se fosse um troféu, um signo de sapiência e de adaptabilidade. Não me canso de tentar entender como foi possível viciar tão facilmente o estômago e as tripas da humanidade com essa beberagem desprezivel.., com essa espécie de urina enlatada...

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Não adianta seguir blefando: só mesmo o fermento é que pode multiplicar os pães...


Você que é um tolo e um otimista inveterado, que acredita que a humanidade vem "avançando", "crescendo", tornando-se mais "consciente", mais "soberana", mais "lúcida", mais "saudável" e mais "respeitável", pode ir tirando o cavalo da chuva. Estamos cada vez mais demenciados e com o cordão umbilical enrolado às carótidas. Cada vez mais assombrados, girando em círculos e cada vez mais afundados no misticismo, na superficialidade, num festim de palavrórios vagabundos, cada vez mais desesperados e ávidos por, pelo menos, uma mentira transcendente. Não acredita? É só abrir a janela ou ir a varanda para ouvir os mugidos do rebanho... 
A propósito, veja abaixo a lista de apenas alguns dos Prêmios e de apenas algumas das Condecorações que, por sua OBRA, nosso conterrâneo Paulo Coelho tem recebido pelo planeta a fora...





sábado, 21 de julho de 2012

Curinga ou Dois de paus???


Com os 40 milhões de dólares já embolsados com O Cavaleiro das Trevas e com Os Vingadores, a corja e os idiotas de Hollywood não terão dificuldades em convencer a turma alienada de cinéfilos, esses bobalhões histéricos e introspectivos, essa quantidade não negligenciável de imbecis que perderam a vida em filas de cinema decorando nomes de atrizes e de atores, de que: “arte é arte e pronto”; de que “a ficção não tem nada a ver com o mente assassina”;  de que “o atirador do Colorado é apenas mais um aloprado”; de que “a indústria do cinema sempre esteve preocupada com o processo civilizatório”; de que “o Batman, o Coringa e todos os pistoleiros vingadores são, além de nossos gurus, nosso EU IDEAL etc. Ah!, mas vingar-se de quê, afinal? E o pior é que talvez até estejam certos!!! E não pensem que o massacre naquele cinema diminuirá a voracidade nas bilheterias. Pelo contrário. Jovens e velhos, mocinhas e pós-balzaquianas depois de ruminarem seu tédio e seus biscoitos amanteigados se acotovelarão na sessão da meia noite de hoje... Quem sabe também ávidos por um consolo essencial, por uma aventura para suas almas litigiosas e até mesmo por uma rajada... Num mundo onde apenas Hollywood, os Banqueiros, as Igrejas e os Políticos é que dão as cartas, para a plebe, para a imensa maioria de bundões anônimos e de náufragos, morrer ou matar cinematograficamente é a única maneira de conseguir, pelo menos, ter o nome registrado em algum obituário ou em alguma penitenciária...

Mas Brasília, em questão de horrores, não fica para trás. Nesta semana mataram um agente da polícia federal com dois tiros na cabeça dentro do Cemitério Campo da Esperança, e exatamente no momento em que ele visitava o túmulo do pai. Quantas noites de sono Freud e sua curriola perderia para, neste planeta de provisoriedades, tentar elucidar e explicar toda essa terrível simbologia...

No mesmo dia encontraram num dos nossos famosos lixões o corpo de uma criança com o crânio amassado, braços e pernas amputados... Este, com certeza, o velho judeu nem se atreveria... Outra criança morreu com um tiro no tórax; um sujeito foi assassinado a pedradas, no velho e autêntico estilo bíblico..., outro a facadas etc., etc., etc. Quem é que, involuntariamente, não explode numa tenebrosa gargalhada quando, no meio dessa chacina interminável e desse espiral diabólico ouve algum babaca, algum morto-vivo, pronunciar a palavra socialismo ou humanismo???

A pé por Jiuxianqiao Road (Art Zone)



















terça-feira, 17 de julho de 2012

Espíritos engaiolados...


Foi demais o cinismo e a cafajestice da mídia quando fez de tudo para, nas exéquias do cardeal Eugenio Sales, forjar e travestir de "espírito santo" aquela pobre e assustada pomba, o mesmíssimo espírito santo que, segundo as narrativas de S. Mateus e S. Lucas teria descido até Jesus, no formato de uma pomba branca quando este estava sendo batizado nos charcos do Jordão. 
Pela atuação “revolucionária” que se está querendo atribuir ao referido morto, durante o período da ditadura militar, pode-se até suspeitar que esse pombo, além do espírito santo, poderia estar representando também o espírito do Marighela...  Prestem atenção como nosso atraso mental está, cada vez mais, beirando à demência! E chegaremos lá...
Além do acontecido no funeral ser um fato banal no mundo zoo e não ter a mais mínima importância nem significação metafísica ou mística já que até um abutre de gaiola se fosse solto naquelas circunstâncias pousaria inevitavelmente sobre o caixão, é importante lembrar que essa história de associar o pombo ao “espírito santo” foi um dos tantos plágios do catolicismo. Na antiguidade - bem antes de qualquer vestígio do cristianismo - um pássaro semelhante ao pombo já aparecia em lendas, anedotas, bobagens de ignorantes e em imagens envolvendo o corpo da deusa Juno e de outras supostas divindades etc. Além do mais, segundo o que ouvi ontem de um pastor que esbravejava sobre um viaduto, quando “Deus selou sua aliança com Noé e com Abraão, imolaram-se pombas e rolas”. Que estranho pacto! Além de pombos, rolas? Teria sido uma Missa Negra, uma heresia das grandes, digna de Sodoma!? Mas compreendo, pois eu mesmo na minha adolescência fui um exímio atirador... Gostava de derrubar as mais ágeis e em pleno voo.  Hoje aquela prática sádica e quase primitiva foi transformada num esporte conhecido por “caça ao pombo” que é praticado por aí por muitos e muitos fervorosos beatos. Alguém detrás de um muro lança a ave para o alto e o atirador, com a espingarda abençoada por um coroinha, dispara brutalmente sobre ela um cartucho de 44. Sorte que esses simpáticos senhores não estavam passeando lá pelas margens do Jordão naqueles tempos... e nem ali no funeral do velho cardeal... senão...

E nos bastidores do mercado... (III)