domingo, 29 de abril de 2012

Sapere aude! Ou, um sábado como todos os outros...

O cortador de grama acionou a parafernália de seu maquinário às sete da manhã em ponto. Às 8:15 ligou-me uma senhora da LBV querendo que eu "adotasse" uma criança. Em seguida recebi outras duas ligações onde um anônimo perguntava: aí é da POLIMAQ? POLIMAQ um caralho, meu amigo! – Lhe respondi. Um capuchino frio + um pão com manteiga + um mini austríaco na tal boulangerie dos vivaldinos na Asa Sul = 17 reais (=Dez dólares!). No semáforo em frente à Federação Espírita uma velhinha tísica e demente vem entregar-me um folheto com uma inscrição em negrito: Jesus te ama & Xico Xavier voltará!!! O livreiro que ficou de efetuar-me um pagamento às dez horas, não apareceu. Na livraria onde procurei por um autor arquiconhecido, o vendedor nunca havia sequer ouvido falar seu nome. Cruzei com a doméstica do andar de baixo que estava indo apressada buscar seu bebê no HRAS, porque o setor da maternidade estava sendo invadido por formigas. O site de partituras que o jornal daquela manhã divulgava e elogiava (SESC partituras) não disponibilizava partitura nenhuma. O moço que foi consertar minha geladeira – pela terceira vez -, esqueceu de levar a peça principal, voltará na segunda-feira, se deus quiser, claro. Como era sábado, mandei lavar o carro. Deram um sumiço nas sete ou oito moedas gregas que estavam no cinzeiro. No restaurante da esquina onde fui aplacar minha cólera devorando um contrafilé argentino, a pia estava entupida e o dispositivo do álcool gel vazio... Quer mais??? Como diria meu amigo baiano: Vá fuder otro!!! Estes são apenas alguns dos transtornos de personalidade e dos dissabores de todos os dias... variantes do inferno que são os países “em desenvolvimento” e que deveriam servir para que os populistas, os patrimonialistas e os demagogos entendessem que é uma idiotice dar papel higiênico ao populacho sem antes ensiná-lo a limpar-se o cu.


Observação: De prazeroso mesmo, só a música cigana e o excelente documentário feito em Cuba pela cineasta Ludmila Curi, que pode ser visto no endereço abaixo:
 E, mais tarde, a leitura de um livretinho de Kant (1783) de umas trinta páginas, intitulado: O que é o esclarecimento? O texto trata basicamente da passagem da minoridade para a maioridade. Isto é, da mentalidade de rebanho, da burrice, da ignorância, da preguiça e do falso conforto das ideias prontas, para a coragem de pensar com o próprio cérebro e por conta própria. A seguir alguns fragmentos do sábio de Konigsberg:

1. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma parte tão grande dos homens, libertos há muito pela natureza de toda tutela alheia, comprazem-se em permanecer por toda sua vida menores; e é por isso que é tão fácil a outros instituirem-se seus tutores...

2. Após ter começado a emburrecer seus animais domésticos e cuidadosamente impedir que essas criaturas tranquilas sejam autorizadas a arriscar o menor passo sem o andador que as sustenta, mostram-lhes em seguida o perigo que as ameaça se tentam andar sozinhas...

3. Ouço clamar de todas as partes: não raciocinai! O oficial diz: não raciocinai, mas fazei o exercício! O conselheiro de finanças: não raciocinai, mas pagai! O padre: não raciocinai, mas crede! Só existe um senhor no mundo que diz: raciocinai o quanto quiserdes, e sobre o que quiserdes, mas obedecei!

4. Um homem pode, a rigor, pessoalmente e, mesmo então, somente por algum tempo, retardar o Esclarecimento em relação ao que ele tem a obrigação de saber; mas renunciar a ele, seja em caráter pessoal, seja ainda mais para a posteridade, significa lesar os direitos sagrados da humanidade, e pisar-lhe em cima...  

5. Situei o alvo principal do Esclarecimento, a saída do homem da minoridade da qual ele próprio é culpado, principalmente no domínio da religião: pois, em relação às ciências e às artes, nossos soberanos não se interessaram em desempenhar o papel de tutores de seus súditos...
(Traduzido do alemão por Floriano de Souza Fernandes e cotejado com o texto original por Luiz Paulo Rouanet)

4 comentários:

  1. Devorando um contra-filé? E a crueldade para com os animais? Ambigüidade?

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  2. Você está reclamando de Brasília? Vem para o Rio de janeiro, e verás o que é o submundo...rsrs...Conforme eu tenho dito, estou há 16 anos sob "perseguição político-militar", e utilizam o argumento de que eu sou uma ameaça para a sociedade, e o povo acredita... As atividades de investigação é a "desculpa" que utilizam para me manterem sob "monitoramento", e eu não sei se "eles" são muito incompetentes, ou se me acham um gênio do mal, porque a investigação daqui há pouco vai fazer bodas de prata... Há muito tempo que eu não sei o que é privacidade, porque tudo é grampeado, invadido e vasculhado, inclusive o local onde eu resido. Enquanto eu morava em Brasília, eu percebia que "eles" entravam em meu apartamento para "vasculhar", mas nunca senti falta de nenhum objeto, inclusive porque nunca tive nada de valor, já aqui na Cidade Maravilhosa, os tais "agentes", arapongas, policiais, investigadores, militares, já nem sei mais quem são, além de receberem propina para realizar esse tipo de trabalho, que é ilegal e escuso, andam roubando babaquices, tipo: material de limpeza, material de higiene, utensílios de cozinha, algumas peças de roupas, e o que mais me assustou nessa semana é que eu percebi que sumiram várias calcinhas da minha gaveta, principalmente as novas, que ainda estavam com etiquetas, e que iriam ser lavadas. Pensei em várias hipóteses, mas como conheci alguns desses dejetos humanos, que entram lá em casa para vasculhar, creio que sejam para eles próprios... Veja, além de serem mau caráter, mercenários e psicopatas, os "escolhidos" são viados enrustidos, e o pior, é que adoraram minhas roupas íntimas, porque sumiram várias... Que tipo de gente é essa que estão contratando para esse tipo de trabalho? Esses são os detetives do Rio de janeiro? Socorro! Mandem-me de volta para a Ilha da Fantasia, porque até os "bandidos" de Brasília agem com mais lisura...

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  3. Ontem, infelizmente, eu completei 47 anos... Em pleno Domingo, chuvoso, no meio de um feriado, a "Cidade Maravilhosa" parecia um cemitério...Resolvi tentar arrumar o cúbiculo onde estou "temporariamente" habitando, mas com tantas caixas e móveis espalhados, tudo fica muito difícil.. Depois de "arejar" o ambiente, coloquei um CD "zen", acendi um incenso, acabei de ler um livro que estava pendente sobre Mozart, meditei, e resolvi escrever, um hábito que contraí desde muito menina, que seria como um "interlocutor oculto"...Dentre os vários temas abordados, lembrei do meu aniversário, e a merda de se estar com 47 anos e presa...Lembrei-me de quem eu era antes da prisão, há 17 anos atrás: da vitalidade, da esperança, da ideologia humanitária, do anseio pela informação, dos mestres, das falsas convicções, das amizades, dos amantes, das frequentes viagens, do acaso, dos bares, da ignorância, do inesperado, da vida... Isso mesmo, eu tinha vida! E muita vida! Eu exalava sexualidade, força, otimismo e alegria! Depois de tudo o que eu havia passado desde o meu nascimento até a juventude, eu achava que havia chegado ao paraíso, e sentia-me completa com a vida que eu levava, até uma certa licitação, quando "alguém" resolveu puxar o meu tapete e me jogar no calabouço...Às vezes fico pensando, o que teria levado aquele sujeito a acabar com a minha vida, mas não consigo encontrar nenhuma resposta, a não ser simplesmente, pura crueldade... Fico pensando o que eu teria feito nesses últimos 16 anos, se não estivesse em "cativeiro"...No mínimo teria amado muuuitooooo, mesmo se fosse o meu marido...rsrs. Eu, realmente, não sei se a ignorância prende ou liberta...Quando encontro com pessoas que têm pouco discernimento, mais humildes, percebo que a única preocupação delas é a dispensa, que estando farta, tudo está bem...Como é simples a vida para quem vive na ignorância...Nessa atual circunstância, eu queria estar completando o meu último ano de vida, e já com o pé na cova, antes que as boas lembranças da liberdade se apaguem da minha memória...

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  4. 1 - Eu não acredito que alguém seja preguiçoso e covarde o tempo todo, inclusive porque o próprio instinto de sobrevivência tiraria a pessoa do estado "catatônico", mas acredito no efeito "bolha", em que a pessoa se debate tanto para sair, sem conseguir êxito, que acaba se exaurindo, e até morrendo...
    2 - O perigo não é para aquelas que estão andando sozinhas, mas para "aqueles" que passam a acompanhá-las...
    3 - Nem o raciocínio é livre...
    4 - Esclarecimento? Para que? E porque? Conheço muitos "não esclarecidos", que não pisam em ninguém, e pela própria falta de esclarecimento, são felizes na sua ignorãncia...
    5 - Quem disse que no meio científico e cultural os soberanos não se designam tutores de seus súditos, quando tudo no mundo virou "moeda"?

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