segunda-feira, 12 de março de 2012

Circus republicanos...


Em se tratando de política, de ideologia, de desenvolvimento social, de direitos humanos, de justiça social e etc., que um homem de vinte ou trinta anos e até mesmo de quarenta ainda esteja completamente iludido, tudo bem, agora... são verdadeiros mistérios aqueles sujeitos com mais de sessenta que ainda abrigam em si um arsenal de esperanças falaciosas e, pior, que vivem em função delas... Não sei se foi pura coincidência, mas neste final de semana, quando mais de cento e cinquenta mil pessoas se atropelaram ansiosas pelo país a fora disputando uma "boquinha" no SENADO, além do Circus de Soleil estavam acampados outros três circos aqui no centro da República. As lonas remendadas, os ônibus e caminhões da trupe aos pedaços, os amontoados de cacarecos num terreno baldio, uma ou outra jaula já sem ninguém e a gestalt de cortiço dessas moradias temporárias e nômades contrastam violentamente com o artificialismo desta cidade e principalmente com as abóbodas de mausoléus do Niemayer. Por mencionar o circo, uma de minhas memórias mais remotas e mais potentes vem de um circo: uma menina negra no meio de um cenário bucólico cantando "Poema" e eu lá nas arquibancadas, praticamente ainda de suspensórios e fraldas, com a convicção de que ela cantava só e absolutamente para mim. Alguns dias depois, - para fazer-me saber que a vida seria rigorosamente regida pelo principio da realidade - no meio de uma chuvarada de granizo e de ventos demoníacos o caminhão daqueles ciganos ia embora e da boleia, um palhaço encharcado ia mostrando a língua para aquela italianada preconceituosa...
Mas voltando a Brasília, apesar de todo o romântico significado desses acampamentos medievais, não lhes parece circo demais? Existe alguma mensagem subliminar nessa presença que não queremos ver? Nossa vida não estaria transcorrendo num fútil e reles picadeiro? Teria a Razão Pura se resumido aos saltos de uma corda a outra, entre um trapézio e outro e aos compulsivos ruminares de pipocas? E o palhaço, com a maquiagem que lhe oculta todas as misérias, não seria o protótipo do homem do Terceiro Milênio que os místicos e os charlatães tanto e inutilmente falaram nas últimas décadas?

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