terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Memórias de quatro décadas Ballantines...


Quem viaja pela Transiberiana Moscou/Beijing sempre se queixa das duas, três ou mais horas que se tem que esperar na fronteira com a China para fazer as devidas adaptações nos trens, uma vez que os chineses e os russos, matreiramente, mantiveram até hoje trilhos com bitolas diferentes. Entenderam a sutileza da coisa? Bem diferentes de nós que ontem vendemos quase beatamente nossos principais aeroportos para forasteiros. Que tal? Mesmo que com nosso caráter seja remotíssima a hipótese de um conflito armado do Brasil com alguém, - mais remota até que a aparição do Anjo Gabriel rebolando por aí nesse carnaval -, pelo menos para manter a dignidade seria importante ter preservado essa soberania.

Não lhes parece evidente que quem não tem capacidade para administrar um aeroporto ou uma rodoviária não tem outro destino a não ser o de vagar para sempre na boléia de carroças?

Esperei até o meio da tarde para ver se alguns dos meus correspondentes “de esquerda” me enviariam algum protesto, alguma indignação, alguma maldição contra esse negócio, algum sinal de que estavam repulsivamente envergonhados, mas nada. Parece que todos digeriram bem, muito bem essa “baixada de calças” ao capitalismo e às corporações. Preferem falar das privatizações do passado, mesmo das ocorridas antes de Getúlio, das contradições no Egito e da Síria, das eleições nos EEUU ou na Rússia enfim, de tempos e lugares longínquos sobre os quais se possa ainda injetar algumas frases de ficção e de religiosidade sem ter que ficar de cara com o ridículo… Mas e o Piauí camaradas? Mas e a periferia de Brasília? Mas e os cemitérios que já não têm mais espaço para enterrar tantos adolescentes assassinados? Mas e as vielas pelo interior do país que são verdadeiras enfermarias a céu aberto e que ainda estão em plena Idade Média? E o trânsito que é uma usina de genocídios? Mas e o descompasso entre dinheiro e cultura? Mas e o analfabetismo generalizado? E a contaminação e envenenamento dos alimentos correndo solto pelos grandes e pequenos latifúndios? Nada. Um silêncio dúbio! Onde estão os “libertários” das universidades? Os pós doutores e “fazedores” de teses hiper revolucionárias? Os sindicalistas profissionais com suas vozes roucas recitando a Trotsky e a Maiakóvsky nos palcos urbanos e aqueles adolescentes vigorosos e delirantes da UNE dispostos sempre a incendiar o planeta apenas pelo prazer de queimar uma bandeira ou de poder acender um baseado nas labaredas? Onde estão as “feministas”, aquelas mulheres desconfiadas com seus óculos sensuais que como as atenienses da época de Eurípides estavam sempre prontas a fazer uma greve de sexo para exigir de seus machos algum gesto de hombridade? Resposta: todas e todos saciados por aí. Os velhotes daqueles tempos lutando para driblar a demência e os jovens embriagados e anestesiados com suas funções gratificadas. Sectarismo é isso. É não ter capacidade para fazer autocrítica, não ser “homem” o bastante para revirar-se pelo avesso e até para esvaziar as próprias tripas quando for necessário, é não ter competência para cuspir sobre todo e qualquer “mito” ou “ídolo” quando ele se revela um crápula ou um bosta...

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(Em tempo: a moeda acima foi encontrada recentemente no Tâmisa e pertenceu ao período do Império Romano. Era usada única e exclusivamente para pagar as putas nos bordéis).

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