terça-feira, 4 de maio de 2010

UM ÚNICO CARRASCO PODERIA SUBSTITUIR UM TRIBUNAL INTEIRO (Kafka)

Leio com os cabelos arrepiados no último Boletim Eletrônico do Núcleo de Sociabilidade Libertária: 


I. “No mais, porém, ele permanece tramitando e continua a ser encaminhado ─ conforme exige o trânsito ininterrupto dos cartórios ─ aos tribunais superiores, volta aos inferiores e assim, como um pêndulo, ele sofre, de cima para baixo, oscilações com impulsos maiores ou menores e maiores ou menores paralisações. Esses caminhos são imprevisíveis. Visto de fora, o processo pode assumir o aspecto de que tudo está há muito tempo esquecido, os autos perdidos e que a absolvição é plena. Um iniciado não acreditará nisso. Nenhum dos autos se perde, o tribunal não se esquece de nada” (...) “Um único carrasco poderia substituir o tribunal inteiro” (Kafka).

II. “E a peste cada um a traz consigo, porque ninguém, sim, ninguém no mundo, está imune” (Albert Camus).

III. “Meu passeio me leva ao abismo” (Egon Schiele)

IV. “Olhando para trás, o perigo direto de ser visto. Alerta para fugir. De repente. A toda pressa. (...) bem sei o que me espera. Pau e pedra. Massacram e arrebentam. Soco e pontapé. Me afundam cada olho com o polegar. Me quebram a perna em três pedaços. (...) sorte minha se for linchado ali mesmo. Suspenso de ponta-cabeça no primeiro poste. Famílias inteiras virão de longe para ver. Ali, pesteando os ares. O circo de urubus festeia no limpo céu azul (...) sobreviver é para sorte pior. A medonha jaula. A cadeia. Ela, não. por favor (...)” (Dalton Trevisan).

V. “O que importa pois a materialidade do suplício? O que importam todos os sistemas penitenciários? O que fazeis deles, é para satisfazer a vossa sensibilidade, mas eles são impotentes (...) Se as coisas pudessem ocorrer de outra maneira, a pena deixaria de ser proporcional ao delito e não seria mais do que uma ficção, não seria nada” (Proudhon).

VI. “As pessoas adoram lançar a polícia contra tudo aquilo que lhes pareça imoral, por mais tolo que seja, e essa fúria popular para defender a moral protege a instituição policial mais do que qualquer governo” (Max Stirner).

VII. "Diante da lei há um porteiro! Na cela, o indivíduo no seu próprio tufão: lei da morte na prisão como livre-arbítrio: mate-se ou nós te mataremos com chutes, porradas, pisoteamentos, espetadas, estocadas, até deixar informe a carcaça para a autópsia, a exposição pública, etc; etc... Um corpo dependurado e final feliz até eclodir outro efeito puritano que climatiza o turbilhão dos desejos. Eis o suicídio aceito pela sociedade! O morto se destaca do anonimato pela última vez, mais um suicidado pela sociedade".

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