terça-feira, 26 de maio de 2009

Fragmentos do Manifesto aberto à estupidez humana 2



I. JÁ SENTISTE VONTADE DE NÃO LER MAIS JORNAIS E DE QUEBRAR EM MIL PEDAÇOS O TEU TELEVISOR?

Neste caso compreendeste que:


a) Os jornais, a rádio e a televisão são os veículos mais ridículos da mentira. Não apenas nos afastam dos verdadeiros problemas como empurram todos os indivíduos a identificarem-se com imagens feitas e a colocarem-se abstratamente no lugar de um chefe de Estado, de uma vedete, de um assassino, de uma vítima, enfim, a reagir como se fosse outro. As imagens que nos dominam são o triunfo do que nós não somos e daquilo que nos aliena de nós mesmos, daquilo que nos transforma em objetos a classificar, a etiquetar e a hierarquizar segundo o sistema de mercadorias universalizadas.

b) A educação de massas no Brasil é construída por sete ou oito apresentadoras de TV analfabetas e que existe uma linguagem subterrânea na boca dessas cretinas a serviço da moral vigente e do Poder. Essa bovinização não está apenas na informação, na publicidade, nas idéias feitas, nos hábitos e nos gestos condicionados. Está também em toda linguagem da vida cotidiana, isto é, em toda e qualquer linguagem que não está posta a serviço de nossa soberania pessoal e de nossos prazeres.

c) O sistema mercantilista impõe suas representações, suas imagens, e seus sentidos, cada vez que alguém trabalha para ele. Isto é dizer que se impõe a maior parte do tempo. Este conjunto de idéias, imagens, identificações e condutas determinadas pela necessidade de acumulação e de renovação de mercadorias formam o espetáculo onde cada um representa aquilo que não vive e onde cada um vive falsamente aquilo que não é. É por isso que na atualidade o papel e a função de cada um é a mais deslavada das mentiras e um mal estar sem fim.


d) O circo/espetáculo (ideologias, cultura, arte, papéis, imagens, representações, palavras-mercadoria, riqueza etc.) é o conjunto das condutas sociais pelas quais os homens, no sistema mercantilista, participam dele contra eles mesmos, convertendo-se em meros objetos de sobrevivência, renunciando ao prazer de viver realmente para si e de construir livremente sua vida.


e) Sobrevivemos em um conjunto de imagens com as quais somos empurrados a identificar-nos. Atuamos cada vez menos por nós mesmos e cada vez mais em função de abstrações que nos dirigem segundo as leis-de-cão do comércio e da fé.


f) Os papéis ou as ideologias podem ser favoráveis ou hostis ao sistema dominante, isso não importa muito, uma vez que permanecem no espetáculo. Apesar do blábláblá de muita gente por aí, só é revolucionário aquilo que destrói a mercadoria e seu sistema.
... e que vivemos numa realidade invertida, usando máscaras que imitam a vida verdadeira e que acabam por empobrecê-la. Já lutas, conscientemente ou não, por uma sociedade onde o direito à comunicação real pertença a todos, onde cada um possa dar a conhecer o que bem quiser, onde a construção de uma vida apaixonante liquide de uma vez por todas a necessidade de “representar” e de dar mais importância às aparências do que ao vivido autenticamente.

II. JÁ EXPERIMENTASTE A SENSAÇÃO DESAGRADÁVEL DE NÃO TE PERTENCER OU DE SER ESTRANHO A TI MESMO?


Neste caso compreendeste que:

a) Através de cada um de nossos gestos mecanizados, repetidos, separados uns dos outros, o tempo se desmantela e, pedaço a pedaço, nos arranca de nós mesmos. E estes tempos mortos se reproduzem e se acumulam trabalhando e fazendo-nos trabalhar para a reprodução e para a acumulação de mercadorias.


b) O envelhecimento não é outra coisa, hoje em dia, que o acréscimo dos tempos mortos, do tempo onde a vida se perde. É por isso que já não existem jovens nem velhos, apenas indivíduos mais ou menos vivos. Nossos inimigos são aqueles que acreditam e que fazem acreditar que uma mudança global é impossível. São os mortos que nos governam, e mortos os que se deixam governar.


c) Trabalhamos, comemos, lemos, dormimos, consumimos cultura, tiramos férias, recebemos cuidados e assim sobrevivemos para um sistema totalitário e desumano, para uma religião de coisas e de imagens que nos recupera quase em todas as partes e quase sempre para aumentar o lucro e para consumir as migalhas do Poder e da classe burocrática-burguesa.


d) Criando apaixonadamente as condições favoráveis ao desenvolvimento das paixões, queremos destruir o que nos destrói. A revolução é a paixão que permite todas as demais. Paixão sem revolução não é mais que a ruína do prazer.
...e que de fato, estás farto de arrastar tempos mortos em obrigações. Já lutas, conscientemente ou não, por uma sociedade cuja base não será nunca mais a profissão para o proveito do poder, mas sim para a busca de harmonia das paixões de viver.

Ezio Flavio Bazzo

2 comentários:

  1. i. jogos estratégicos de ironias e metatextos de jornais e tvs - entreter até a idiotia. ilusões escolásticas. produtores, publicitários, celebridades e toda corja de acionistas - cínicos em aparentes neutralidades. por um lado, um mundo pós-moderno prenho dos gêmeos vazio e nada, por outro espectadores - produtos manufaturados pela banalidade - que saltitam e dão cambalhotas de bobagem em bobagem. retroalimentação despolitizada e despolitizante.
    ii. do deprimente até o pouco excitante. hipnotizado, frígido, indiferente. tudo mediado/midiado. ou os momentos da vida celebrados como uma miserável trepada, apenas por procriação ou performance, entre a mercadoria e o espetáculo. ou os momentos da vida como uma tática ativa e violenta da espera pela hora da ida ao caixão.

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  2. Ótimo,perfeito!Pena que uma minoria tem esse discernimento e essa lucidez nesse planeta!

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