segunda-feira, 24 de março de 2008

Os mosquitos e o proletariado


Não é só a epidemia ou a precariedade dos hospitais no Rio de Janeiro que têm nos impressionado, ficamos boquiabertos também com a insistência e com apreferência dos mosquitos em atacar o proletariado e sua prole. Quais as razõesdesses insetos preferirem as águas estagnadas dos muquifos e a nojeira doscortiços ao invés dos jardins suspensos de Ipanema? Por que essa opção pelo lodo no interior dos pneus, dos urinóis e dos canecos abandonados nos aterrosnauseabundos ao invés da umidade perfumada sob as touceiras de Heliconias e da Cordiline Rosada nos fundos das mansões do Leblon? Por que esses ferozes mosquitos preferem desovar nos bairros miseráveis, apinhados e infectos, aoinvés de depositarem seus filhotes nas coberturas à sombra dos filodendros? Sinceramente, não dá para entender. E as massas miseráveis se colocam em fila na beirada dos hospitais com suas crianças mortas nos braços e já sem lágrimas. Seus tataravôs, bisavós e avós já passaram por algo semelhante com a varíola, com a lepra, com a febre amarela, com a sífilis... O horror não lhes é estranho. Por isso ficam ali o dia inteiro ao lado de seus parentes moribundos sem nenhum impulso incendiário e sem a mínima compreensão de como realmente funciona o desprezo, a negligência e a gatunagem social.

Ezio Flavio Bazzo

Um comentário:

  1. que tal uma ficção científica com o título "os moribundos e a guerra biológica"? agentes da cia desiludidos com os resultados obitidos pelo uso do antraz, do botulismo, da cólera, do ebola, da peste, rickéttisia (febre q), da varíola, da intoxicação por enterotoxina b estafilocócica e da tularemia, invadem uma infame fábrica brasileira para descobrir comunistas no "interior dos pneus, dos urinóis e dos canecos abandonados". para a surpreza de todos, encontraram apenas algumas simpáticas larvinhas aristocráticas desfrutando do frescor de águas paradas em um quentíssimo dia de verão tropical. logo os agentes tiveram uma idéia infalível: montar uma programa ultra-secreto para que a única forma de organização dos proletários seja para correrem, juntos e insanamente, aos decadentes postos de saúde das periferias onde moram. assim, mais uma vez a cia prenunciou o futuro.

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